Do discurso à prática: Como criar um ambiente antirracista nas empresas

Nathalia Souza
4 min readJul 13, 2020

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Imagem: Pinterest

Como as empresas podem colocar em prática a igualdade racial?

Essa provocação foi feita pelas professoras Suelen Aires Gonçalves e Thaís Silveira na disciplina de Questões Étnico-raciais e Racismo nas Organizações do MBA em Diversidade e Desenvolvimento de Práticas Inclusivas nas Organizações da Universidade Lasalle/RS. Na semana passada, tivemos a última aula da disciplina e apresentamos algumas respostas para esse desafio. Esse post é uma forma de levar o debate para além da sala de aula (e para além do Blackout Tuesday) para que ele alcance ainda mais gente. Eu sou uma mulher branca que está se educando sobre a temática racial e o racismo estrutural, reconheço meu privilégio branco e é desse lugar que eu falo, como aliada.

O problema

O estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça” realizado pelo IBGE em 2019, mostra que pessoas brancas tem renda 74% superior à pessoas pretas e pardas. A diferença salarial por cor ou raça é maior do que por gênero. Apesar de representar 56% da população brasileira e 55% da força de trabalho, as pessoas pretas e pardas estão em desvantagem no mercado de trabalho. Em relação aos cargos gerenciais, 70% são ocupados por pessoas brancas e menos de 30% são ocupados por pessoas pretas ou pardas. A taxa de desocupação entre pretos e pardos é de 14,1% e entre brancos é de 9,5%. 47% dos pretos e pardos atuam na informalidade. Entre os brancos essa taxa cai para 35%. Além das questões relacionadas ao trabalho, o estudo também aponta que as pessoas pretas e pardas estão mais sujeitas à violência e possuem os piores indicadores em relação a escolaridade, condições de moradia e acesso a bens e serviços.

As empresas fazem parte da sociedade e possuem responsabilidade em fazer parte da solução desse problema. Segundo estudo da McKinsey & Company divulgado em maio, empresas que investem em diversidade étnica aumentam em 36% as chances de lucratividade do que empresas que não investem no tema. As ações nas empresas devem ser contínuas e podem variar de acordo com a cultura, setor, região, porte da empresa, entre outros fatores. Abaixo seguem algumas dicas que podem ajudar a criar um ambiente antirracista nas empresas.

Caminhos possíveis

  1. Análise da demografia organizacional

Onde estão as pessoas negras dentro da empresa? Quantas são? Em qual nível hierárquico estão? Existe proporcionalidade no contexto de diversidade étnico-racial? O primeiro passo para criar um ambiente organizacional antirracista é identificar o problema. A partir disso, será possível definir uma estratégia de negócio e desenvolver práticas inclusivas de acordo com a necessidade identificada.

2. Liderança inclusiva

Os líderes precisam entender a importância do tema, se conscientizar sobre os seus vieses inconscientes e se comprometer genuinamente com a estratégia de equidade étnica-racial, atuando como multiplicadores do tema. Segundo relatório do Instituto Ethos, pessoas negras representam apenas 4,7% dos cargos executivos nas 500 maiores empresas brasileiras.

3. Educação antirracista

Investir em educação inclusiva e treinamentos voltados à educação racial é fundamental para disseminar conhecimento e capacitar as lideranças e os times, visando estimular a criação de uma mentalidade e cultura antirracista. Envolver os colaboradores contribui para o senso de pertencimento e engajamento. Cocriar as ações com pessoas negras é premissa básica e pode ajudar na priorização de quais são os treinamentos mais urgentes.

4. Recrutamento de pessoas negras

Revisão do modelo tradicional de recrutamento e seleção baseado em meritocracia. Considerando que vivemos em um país desigual onde as pessoas possuem pontos de partida diferentes, quem fez curso de inglês, voluntariado e intercâmbio tem mérito ou privilégio? Quais requisitos são realmente imprescindíveis e quais podem ser desenvolvidos?

5. Desenvolvimento de carreira

Não basta só contratar, é preciso desenvolver. Não basta enegrecer as empresas só na base da pirâmide, é preciso definir mecanismos de acesso, mas também de ascensão de carreira. Isso pode ser realizado através de mentorias com lideranças da empresa, por exemplo.

6. Grupo de Afinidade

Espaço seguro para compartilhar vivências e prosperar coletivamente. Também é um espaço para mapear desafios organizacionais e propor soluções. Práticas de governança são altamente recomendadas para acompanhamento do grupo e definição de questões como papéis, responsabilidades, orçamento, entre outros.

7. Canal de diálogo

Canal para fazer denúncias, pedidos de auxílio ou dialogar sobre necessidades que possam ter, com a devida atenção e acolhimento que o tema demanda. Para que os colaboradores tenham confiança no canal, é importante que ele seja eficiente, com soluções efetivas e não paliativas.

8. Indicadores

Diversidade e inclusão é um tema estratégico para o negócio. É uma alavanca de performance, inovação e impacto social. Sendo assim, precisa ser mensurada como qualquer outra estratégia de negócio. As metas podem ser de recrutamento e seleção visando proporcionalidade ou educação corporativa para mensurar o aprendizado dos treinamentos voltados à educação racial, por exemplo.

#DicasExtras: Leia o “Pequeno Manual Antirracista” da Djamila Ribeiro e firme compromisso com a causa em https://www.sejaantirracista.org/.

Meu nome é Nathalia Souza. Formada em Gestão de Recursos Humanos, pós-graduada em Gestão de Pessoas e Liderança Coach e pós-graduanda em Diversidade e Desenvolvimento de Práticas Inclusivas nas Organizações. Profissional de Gestão de Pessoas com experiência em atração e desenvolvimento de talentos, principalmente no setor de tecnologia. Encontrei meu propósito no trabalho com diversidade e inclusão nas organizações.

Faz sentido para você? Tem alguma outra boa prática? Entra em contato e vamos trocar ideias. :)

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Nathalia Souza

Realista esperançosa e Especialista em Diversidade e Inclusão nas Organizações